quinta-feira, 1 de maio de 2014

Cafundó retrata contradições do Brasil contemporâneo

Carlos Vogt e Peter Fry relançam livro sobre comunidade rural de negros
No final dos anos 1970, o linguista Carlos Vogt e o antropólogo Peter Fry receberam, do então reitor da Unicamp Zeferino Vaz, a incumbência de investigar a veracidade por trás de uma notícia que chegara a ele por meio de um jornalista: a existência de uma comunidade rural de negros que se comunicavam por meio de uma língua africana desconhecida. Os pesquisadores partiram a campo e constataram, para sua surpresa, que a notícia procedia. “Foi inusitado chegar a uma região tão próxima de São Paulo e deparar com uma comunidade usando uma língua, na verdade, um vocabulário de origem africana, de maneira tão ativa e singular”, relembra Vogt. “Chegamos ao local com nossos gravadores de rolo e começamos a gravar a conversa com o líder, Otávio. Reconheci algumas palavras comuns nas línguas africanas”, conta Fry, que já havia feito pesquisas na África.
A comunidade, que ainda existe, chama-se Cafundó e fica em Salto de Pirapora, a cerca de 150 km da capital paulistana. Nela vivem duas parentelas, descendentes de escravos, a dos Almeida Caetano e a dos Pires Pedroso, totalizando cerca de 80 pessoas, que utilizavam em seu cotidiano a língua, denominada “cupópia”.
Durante pelo menos dez anos (1978 a 1988), Vogt e Fry frequentaram o Cafundó, dedicando-se ao estudo da comunidade e da língua. Os resultados da pesquisa se transformaram em vários artigos e, em 1996, no livro “Cafundó – A África no Brasil”, cuja segunda edição acaba de ser publicada pela Editora da Unicamp e será lançada 16 de abril, no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL).
Mais do que observadores, o contato com a comunidade acabou transformando os pesquisadores em personagens de um enredo que, de certa forma, reproduz as complexidades e tensões da sociedade brasileira contemporânea.
Leia aqui a matéria completa do Jornal da Unicamp