Carlos Vogt e Peter Fry relançam livro sobre comunidade rural de negros
No final dos anos 1970, o linguista Carlos Vogt e o antropólogo Peter
Fry receberam, do então reitor da Unicamp Zeferino Vaz, a incumbência
de investigar a veracidade por trás de uma notícia que chegara a ele por
meio de um jornalista: a existência de uma comunidade rural de negros
que se comunicavam por meio de uma língua africana desconhecida.
Os pesquisadores partiram a campo e constataram, para sua surpresa,
que a notícia procedia. “Foi inusitado chegar a uma região tão próxima
de São Paulo e deparar com uma comunidade usando uma língua, na verdade,
um vocabulário de origem africana, de maneira tão ativa e singular”,
relembra Vogt. “Chegamos ao local com nossos gravadores de rolo e
começamos a gravar a conversa com o líder, Otávio. Reconheci algumas
palavras comuns nas línguas africanas”, conta Fry, que já havia feito
pesquisas na África.
A comunidade, que ainda existe, chama-se Cafundó e fica em Salto de
Pirapora, a cerca de 150 km da capital paulistana. Nela vivem duas
parentelas, descendentes de escravos, a dos Almeida Caetano e a dos
Pires Pedroso, totalizando cerca de 80 pessoas, que utilizavam em seu
cotidiano a língua, denominada “cupópia”.
Durante pelo menos dez anos (1978 a 1988), Vogt e Fry frequentaram o
Cafundó, dedicando-se ao estudo da comunidade e da língua. Os resultados
da pesquisa se transformaram em vários artigos e, em 1996, no livro
“Cafundó – A África no Brasil”, cuja segunda edição acaba de ser
publicada pela Editora da Unicamp e será lançada 16 de abril, no
Instituto de Estudos da Linguagem (IEL).
Mais do que observadores, o contato com a comunidade acabou
transformando os pesquisadores em personagens de um enredo que, de certa
forma, reproduz as complexidades e tensões da sociedade brasileira
contemporânea.
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