domingo, 9 de outubro de 2011

Racismo, um gol contra fora de campo

Apesar dos protestos e das iniciativas da Fifa, problema do racismo continua espalhado pela Europa. E sem punição

O racismo explícito das torcidas de Zenit e Lazio

Episódios de racismo e outras formas de preconceito, como xenofobia e antissemitismo, aparecem em numerosos países da Europa, mas em dois clubes o problema é mais grave: o Zenit, da Rússia, e a Lazio, da Itália, onde atuam os brasileiros Hernanes, André Dias e Matuzalém.

Equipe preferida do fascista Benito Mussolini, o clube italiano até hoje é identificado com movimentos de extrema-direita na Itália, e não é raro que torcedores e atletas da equipe exibam homenagens ao ditador. O ex-jogador Paolo di Canio, por exemplo, acabou multado após sucessivas comemorações com o braço direito levantado — um gesto de saudação fascista — e possui tatuagens alusivas a Mussolini. Em 2010, o argentino Zárate também recebeu uma multa pela mesma razão.

No Zenit, da cidade de São Petersburgo, a situação é ainda mais violenta. A maioria esmagadora dos torcedores é contrária à contratação de negros e pressiona os dirigentes nesse sentido. A intolerância tem efeito: até hoje, nenhum negro jogou profissionalmente pela equipe.

— Estaria feliz de contratar qualquer atleta, mas os torcedores não gostam de jogadores negros — reconheceu, em 2008, Dick Advocaat, técnico do clube na época.

O ódio racial no Zenit, inclusive, não é restrito a negros. Em abril, um torcedor ofereceu uma banana ao brasileiro Roberto Carlos — e acabou banido. Mas episódios como esse acontecem com frequência: houve o mesmo com Neymar no amistoso do Brasil contra a Escócia, em março, na Inglaterra. Sem punição ao agressor.

País com enorme população de estrangeiros, a França também entrou, em maio, na ciranda do racismo. O técnico Laurent Blanc causou polêmica ao se envolver em uma medida para restringir o número de negros e descendentes de imigrantes na seleção nacional, como os ídolos Henry, Vieira e Zidane. Apesar das acusações, saiu absolvido.

O problema do racismo não é só prejudicial ao esporte no aspecto social. Segundo o especialista em Psicologia do Esporte João Ricardo Cozac, o atleta vítima de racismo pode, dentro de campo, manifestar duas reações diferentes — e nunca agradáveis:

— Em geral, o atleta pode sentir uma depressão muito forte, pois está sendo agredido na honra, na integridade, e acabar com o rendimento prejudicado. Mas também pode, por outro lado, se sentir estimulado, fortalecido, para responder às ofensas.


Depoimento: Grafite

Vítima de racismo do argentino Desábato, em 2005, pelo São Paulo, em jogo da Libertadores. Hoje, está no Al Ahli, dos Emirados Árabes Unidos

"Em 2005, aconteceu algo que costuma acontecer no futebol, de um jogador desrespeitar o outro para provocar. Porém, o Desábato faltou com respeito não só comigo, mas com todas as pessoas negras, por quem zelo demais. Achei exagerado e estou ciente de que é criminoso. Então, acabei fazendo o que achei certo e que deveria fazer. Aposto que o jogador aprendeu e não repetiu mais esta atitude errada.l

Nunca mais enfrentei este problema, nem no Brasil, nem na Alemanha. Aliás, na Alemanha sempre tive muito respeito em todos os lugares. Enquanto estava no país, até fiquei sabendo de algumas coisas que aconteceram na Espanha, na Rússia... É uma pena. Isso é um atraso da sociedade."

Fonte: Jornal Extra

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