quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Denúncia de racismo dentro da Bienal do Livro

Bienal acontece até domingo (11) no Rio Centro
(Foto: Carla Meneghini/Arquivo G1)
Alunos do Colégio estadual Guilherme Briggs, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, registraram na Polícia Civil uma denúncia de racismo que teria ocorrido dentro da Bienal do Livro, que é realizada no Rio Centro, na Zona Oeste do Rio. De acordo com o professor e advogado da escola, José Carlos Araújo, uma turma estava em passeio da escola quando o caso aconteceu. O caso foi registrado na 77ª DP (Icaraí), mas será encaminhado para a 42ª DP (Recreio), que é a delegacia responsável pelo bairro onde fica o Rio Centro.
De acordo com José Carlos, duas alunas de 16 e 17 anos tentaram conseguir uma senha para uma palestra organizada em um estande na feira. Mas, segundo ele, um funcionário do estande teria negado as senhas, alegando que “não gostava de negros” e que as estudantes seriam “negras do cabelo duro”, para, em seguida, ofender o resto do grupo com “negros, favelados e sem educação”.
O G1 entrou em contato com a assessoria de imprensa da organização da feira, que informou que "a Bienal do Livro representa a maior festa literária do país e tem como características a diversidade e a pluralidade." A nota informa ainda: "Fazemos parte do movimento em prol da democratização da leitura e lamentamos se o fato relatado tenha sido provocado por um dos expositores do evento."

Registro na delegacia

Ao tomar conhecimento do caso, a diretora da escola, Alcinéia Rodrigues da Silva, foi com as alunas que teriam sido ofendidas e os pais delas à 77ª DP (Icaraí) registrar queixa contra o funcionário. A denúncia será transferida para a 42ª DP (Recreio). “Estamos agora num momento de preservação dos alunos. Foi feito o registro do caso, a Secretaria de Educação tomou conhecimento do caso, e a Secretaria de Direitos Humanos também. Foi um fato lamentável, em pleno século XXI, a gente não espera que aconteça mais essas coisas”, declarou a diretora.
A escola pretende agora reverter o episódio para o lado positivo, e já programou atividades de conscientização sobre a questão e orientações de como os alunos podem agir nesses casos. “Foi o primeiro caso na escola, sempre trabalhamos muito isso aqui dentro. Mas é como os alunos falaram para os pais deles: sofrer na pela, elas nunca tinham sofrido”, concluiu.
A delegada Adriana Belém, da 42ª DP, informou que o caso deve chegar por volta de segunda-feira (12) na delegacia. Ela informou que ainda não foi aberto um inquérito na 77ª DP.
A Secretaria estadual de Educação enviou uma nota de repúdio: "A Secretaria de Estado de Educação, por meio da Coordenação de Diversidade Educacional, informa que, tão logo soube do fato ocorrido na Bienal, colocou-se à disposição para prestar as devidas orientações e apoio às famílias das estudantes, bem como a todos os alunos, professores e direção da referida unidade escolar. A Seeduc reitera que repudia qualquer ato de preconceito, seja ele étnico, racial ou de qualquer natureza."
Fonte: G1


5 comentários:

  1. Lais, entrei no blog para publicar exatamente a mesma matéria. Você foi mais rápida (rsrs)! Um verdadeiro absurdo que precisa ser investigado em profundidade. A visibilidade que o caso ganhou pode ajudar no debate e na conscientização para que novos casos não aconteçam. Mas, sabemos que o problema é mais profundo, não é mesmo? Há uma cristalização da noção dual de superioridade x inferioridade que orienta a prática de determinadas pessoas. Não é fácil quebrar isso. Mas, a sociedade está vigilante e há, hoje, mecanismos para a reeducação dessas relações etnicorraciais violentas e alienadas. Vamos acompanhar este caso. Abraços, Carrano

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  2. Eu vim até aqui para fazer a mesma coisa que vocês. É realmente muito triste que este fato tenha ocorrido num evento de tamanha importância e dimensão em nosso país. Estamos em um nível de evidência no panorama mundial como nunca estivemos antes e é inadmissível que a organização do evento apenas lamente o ocorrido, como se pudesse ser neutra a isto em algum momento. Espero que o expositor e o agressor também respondam publicamente ao caso.

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  3. Um absurdo que uma coisa dessas ainda aconteça nos dias de hoje! lamentável.

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  4. Gente... que coisa terrível! Num evento onde se prega a democratização da leitura... Felizmente, o caso foi divulgado e a denúncia ocorreu, vamos ver se o responsável pela agressão será punido!
    Obrigada por compartilhar!

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  5. Tal situação reforça o mito da democracia racial em nosso país. Reconhecer que o Brasil é uma país preconceituoso, que não sabe lidar com a diversidade é o primeiro passo para construirmos uma nação melhor. Parabéns a escola por trabalhar a questão da diversidade e a diretora por ter dado voz as alunas levando-as para denunciar a agressão.

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