quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Abolição do Tráfico e suas conseqüências

Gláucia L. Drumond Bispo
Componente do Grupo História e Memória (noite)


A intensificação econômica com as mudanças de paradigma político- econômico ocorridas na Europa, sobretudo na França e Inglaterra, repercutiram no Brasil também.
Para além da Revolução Francesa, que permitiu a emancipação política da classe burguesa, as pressões da Revolução Industrial que ocorre na Inglaterra também no século XVIII, garantindo a emancipação econômica da classe emergente, começa a influenciar as idéias de alguns homens na colônia. Com a extinção da escravidão já acontecendo em outros países, o Brasil passa a ser questionado e pressionado por esses acontecimentos, sobretudo pelos interesses políticos e econômicos da Inglaterra, que condenava o trabalho escravo.

Dado as relações políticas entre Brasil e a Inglaterra, uma vez que esta escoltou a vinda dos portugueses para a colônia, a Grã-Bretanha possuía uma série de vantagens econômicas em relação aos outros países, quanto à entrada dos seus produtos no Brasil.


Para a Inglaterra, a escravidão passa a não ser vantajosa nos países com a qual se relacionava. Pois o aumento da produtividade de mercadorias, o país necessitava de pessoas com poder aquisitivo para consumir o que se produzia. Assim, começaram as pressões sobre o Brasil para que fosse abolido o tráfico de escravos no país, para que desta forma fossem criados mais trabalhadores livres para que pudessem consumir as mercadorias européias, principalmente as inglesas. A colônia, por sua vez, resistiu em acabar com o trabalho escravo, sendo este o maquinário que impulsionava a economia do país.

Em 1831 é sancionada a Lei que proíbe o tráfico de escravos para o Brasil. Navios fiscalizadores são estrategicamente posicionados para esta averiguação em alto mar. No entanto, a resistência em abolir o tráfico foi tão grande por parte dos conservadores, que esta lei ficou conhecida na história como a famosa lei para “inglês ver”, pois sua proposta não saiu dos papéis.

Novas rotas foram feitas, a fim de burlar os navios com a função de fiscalizar e de forma clandestina, escravos foram desembarcados na região do “sul fluminense – Mangaratiba, Paraty, Angra dos Reis e no norte fluminense – Búzios , São Pedro da Aldeia e Cabo Frio para abastecer as fazendas do Vale do Paraíba” (BRASIL; MARQUES; CAMPOS et all, pág. 13, 2008), com a produção e exportação de café.
Quinze anos se passaram e a Inglaterra não conseguiu acabar com o tráfico de escravos e o Brasil não cumpriu sua promessa. A Grã-Bretanha passa a tomar medidas mais enérgicas e aprisiona embarcações com suspeita de tráfico de escravos.
A Inglaterra passa a ameaçar a Colônia: “a ameaça de um bloqueio e as demais pressões diplomáticas acabaram por surtir efeito” (COSTA, p. 28, 2008). A questão do tráfico é reavaliada e é sancionada a nova lei que aboliu de vez o tráfico de escravos, uma vez que as penalidades instituídas eram mais severas. A Lei Eusébio de Queiroz entre em vigor em 1850.

Com a abolição do tráfico, foi notória a diminuição dos escravos. O preço dos escravos vendidos inter e intraprovincial aumentou de forma significativa, fazendo com o que os senhores procurassem a tratar “melhor” seus escravos, inclusive construindo hospitais nas fazendas, não com uma visão humanitária, mas sim econômica. Além dessas medidas de preservação do bem que produzia suas riquezas, os senhores recorrem a mãos-de-obra alternativas: o trabalhador livre nacional e os imigrantes.

De acordo com COSTA (2008), o trabalhador nacional vivia nas periferias dos latifúndios, em pequenas propriedades, dedicando-se à economia de subsistência e só esporadicamente se dispunha a trabalhar nas fazendas. No entanto, o trabalhador recusava-se a trabalhar de forma regular nas fazendas, afinal ele não era escravo. Desta maneira, os senhores recorreram aos imigrantes europeus.

Vários foram os imigrantes que entraram no país, contribuindo “com a sua indústria e sua cultura para o desenvolvimento nacional” (COSTA, 2008, p. 35). No entanto, a relação entre colonos e imigrante foi conflituosa, pois assim como os trabalhadores livres nacionais não eram escravos e não aceitavam fazer o papel do mesmo, não ser quando forçados, os imigrantes, também não.

Financiados pelos senhores, os imigrantes vieram para o Brasil trabalhar nas fazendas. Seu pagamento era o trabalho prestado ao senhor que financiou a viagem dos imigrantes. Suecos e Alemães vieram para a colônia.

Os colonos foram incentivados a construírem suas vidas no Brasil pelos atrativos mostrados pelo agente de viagem. Quando chegaram à colônia perceberam que eles construiriam a vida de outrem, desta forma

queixavam-se de que eram tratados como escravos, forçados a comprar mantimentos no armazém da fazenda onde tudo era mais caro, que não recebiam o que lhes era devido que as contas eram fraudadas e que os fazendeiros lhe s entregavam os cafezais em formação – os quais ainda não produziam ou cuja a produção ainda era pequena – reservando para seus escravos os cafezais mais produtivos (COSTA, 2008, p.36).

Assim que pagavam suas dívidas os colonos abandonavam as fazendas, outros saiam antes mesmo de pagarem o investimento que o senhor fizera. Neste sentido, restava apenas ao tráfico existente no país que a cada dia encarecia mais.


Referencia Bibliográfica
COSTA, Emília Viotti da. A abolição. 8ºed. ver. e ampl.. – São Paulo: Editora UNESP, 2008.

Nenhum comentário:

Postar um comentário